terça-feira, 30 de junho de 2009

CAMINHO PORTUGUÊS DE BARCELOS A SANTIAGO DE COMPOSTELA DE BICICLETA

Aceita o meu conselho e sai pelas sete horas da Colegiada de Santa Maria Maior, mas tem em conta que há sinalização dentro da cidade que te desvia do caminho que te propomos. Passas junto à Torre de Menagem da Porta Nova e à Igreja do Senhor Bom Jesus da Cruz, atravessas o Campo da Feira e tomas a N103 para Viana, passando por cima da circular de Barcelos. Antes de chegares a Abade de Neiva sais à direita, para Ponte de Lima e abandonas a estrada nacional porque o itinerário, agora, apoia-se apenas em caminhos rurais. No Espírito Santo, na freguesia de Vila Boa, terás que fazer um pequeno desvio para cruzares a linha ferroviária do Minho, mas depois segues de novo o caminho original até à portela de S. Fins do Tamel, por onde entras no Vale do Neiva.
É aqui no Vale do Neiva que o Caminho, embora perfeitamente conhecido, apresenta mais constrangimentos pontuais, que impõem o recurso a troços alternativos. E um deles é já no seguimento da Capela da Senhora da Portela, pelo que tomarás de novo a N306 durante 600 metros, virando depois à esquerda para a Igreja nova de Aborim.
Descendo sempre chegas ao rio Neiva, que atravessas na Ponte das Tábuas e logo a seguir à vila de Balugães, no sopé da Senhora da Aparecida, concorrida romaria do Alto Minho. Ainda será cedo para almoçares, mas podes descansar um pouco e aprovisionar comida para uma refeição ligeira, pois não terás mais lojas disponíveis até ao fim do dia.
A partir de Balugães farás uns seis km até à portela da Facha, entrando e saindo na estrada nacional em busca de alternativas ao troços já comprometidos. E é nesta portela que tens a transmutação para o Vale do Lima. Num magnífico percurso correrás a Facha, a Seara e a Correlhã e ficarás maravilhado quando entrares em Ponte de Lima pela Avenida dos Plátanos, junto ao rio, ao crepúsculo do ocaso.
Pontos de Interesse
Passeio junto à Câmara
Ruínas num campo de milho
Cruzeiros
Cruzeiro do Espirito Santo, depois de Vila Boa Cruzeiro na bifurcação para Ponte de Lima
Igrejas
Capela de Santa Cruz
Capela do Espirito Santo
Igreja de Santa Maria Maior
Igreja do Senhor da Cruz
Ponte das Tábuas
Aguiar / Balugães
Esta ponte em cavalete que faz a travessia do rio Neiva, aparecia já documentada em 1135. Pelo nome, a construção original seria em madeira. A actual construção datará dos meados do século XVI.


Sem querer alarmar, devo dizer-te que a jornada é a mais dura do caminho, quer pela sua irregularidade, quer pela sua extensão. Prepara um farnel para o almoço, aponta a saída da Igreja Matriz para as sete horas e dirige-te pelas vielas do burgo medieval até ao Largo de Camões, onde desemboca a formidável ponte romano/gótica de 22 arcos. Por ela transporás o rio Lima. Entre os dois tramos da ponte, ao passares junto à igreja de Santo António da Torre Velha, repara numa pequena capela medieval aberta, que é dedicada ao Anjo da Guarda. Nos seus sete séculos de existência já viu passar, como a ti, muitos e muitos milhares de Peregrinos.
Chegado à Além da Ponte viras à esquerda e entras de novo no mundo rural. Primeiro, a freguesia de Arcozelo, de feição marcadamente agrícola, mas a partir da Labruja começa a escassear a lavoura com a pendente da serra, que se cobre de arvoredo até à Portela Pequena. São estes dois quilómetros da vertente da Labruja os mais extenuantes de todo o Caminho, justificando uma alternativa para os ciclistas que não queiram transportar a bicicleta às costas. A meia encosta recupera o fôlego junto à Cruz dos Franceses, que assinala o local onde a população emboscou os retardatários do exército de Napoleão, na invasão de 1809. E depois trepa o que falta até à casa da Guarda Florestal, onde acharás uma bica de fresquíssima água.
Por esta portela entras na bacia do rio Minho pelo Vale do Coura, seu afluente em Caminha. Vais portanto começar a descer, o que farás por Aqualonga e Rubiães, que facilmente identificas pela sua bela igreja românica. É um bom local para descansares e desembrulhar o farnel do almoço. Depois, continuas a descer até à ponte romana e desde já te previno que dificilmente lá chegarás de pé enxuto, porque a água, até no Verão, corre a rodo pelo caminho.
Passado o Coura sobes de novo, mas agora suavemente, até S. Bento da Porta Aberta, outro local de afamada romaria. Procura a igreja e à sombra das suas árvores, descansa um pouco antes iniciares a descida para Fontoura. Na passagem por Cerdal e, sobretudo, quando entrares de novo na N13, varrida por intenso tráfego, vais-te ressentir, muito provavelmente, do cansaço da jornada, mas anima-te, que estás apenas a três quilómetros de Valença.
Chegado a Valença tens duas opções possíveis. Ou terminas aqui a jornada, ainda com tempo de visitares a cidadela e resolver o problema do alojamento, ou andas mais dois quilómetros e vais pernoitar a Tui no Albergue de Peregrinos ( atrás da Catederal).
Pontos de Interesse Portão Quinta da Sabadão
Cruzeiros
Cruzeiro, depois de Sabadão
Pontes
Cruzando o rio Lima
Travessia do Lima, pela ponte romano-gótica
À vista do Arco da Geia Arco da Geia (Ponte romana-medieval)
Igrejas
Capela do Anjo da Guarda
O PESSOAL E DONA MÁRCIA
FONTE DAS TRÊS BICAS
Se decidiste ficar em Valença, atravessas agora o Minho na ponte metálica (antes de haver ponte os Peregrinos atravessavam o rio de barco entre os cais do Arinho de Lavacuncas, o que ainda hoje pode ser feito) e dirige-te à Sé Catedral
Apresta-te a sair da Catedral pela oito horas. Vais passar pelo túnel do Convento das Clarissas e, já fora de muros, pelas igrejas de Santo Domingo ( da pérgola do jardim tens a mais bonita vista sobre Valença e Tui)e San Bartolomé. Desces depois à ponte da Veiga, mas não a passas, sais à esquerda por um caminho de terra, atravessas a linha férrea e a autovia, passas a Capela de Virxen do Camino e chegarás a um dos troços mais bonitos do percurso - o vale do Louro. É tão bonito que nem te apercebes que este rio é o fétido efluente das indústrias transformadoras de Porriño. Aqui, remanso da ponte das Febres morreu com a peste há 750 anos o Bispo de Tui San Telmo, no regresso de uma peregrinação a Santiago.
Depois deste bucólico percurso tem início, à saída de Orbenlle, o mais árduo troço de todo o caminho - a travessia do Polígono Industrial e a entrada de Porriño pela estrada nacional, que representa cinco quilómetros em via asfaltada com intenso tráfego de pesados. É, portanto, bem vinda uma pausa nesta cidade, onde podes almoçar e temperar o ânimo para a segunda parte da jornada.
Pela mesma estrada por onde entraste sairás agora da cidade, rumo ao norte. Trata-se da N550, que anda sempre paralela ao Caminho a te servirá de referência até Santiago de Compostela.
Vais passar junto ao Pazo de Mos e aí respira fundo, porque terás de subir a íngreme Rua dos Cavaleiros, continuando depois para Santiaguiño de Antas ( marco miliário romano da via militar XIX Braga - Astorga) e Chan das Pipas. Aqui, ficarás surpreendido com uma larga panorâmica sobre a Ria de Vigo. Tens uma fonte à disposição. Mata a sede e descansa uns minutos porque a descida que se aproxima é violenta. Mas não desanimes, estás muito perto de Redondela e espera-te um bom Albergue ( Torre do Relógio, no meio da cidade ) para um merecido repouso.


Contudo, antes de deixares Redondela faz uma visita à Igreja românica de Santiago, a primeira matriz do Caminho Português dedicada ao Apóstolo.
Sais agora da N550, que deixas, ainda nos subúrbios da cidade para tomar a poente um caminho secundário que passa sobre a linha férrea e que cruzará de novo com a estrada nacional levando-te, depois de uma pequena subida, a uma área de repouso com uma boa fonte em Outeiro de Penas.
Subirás ainda mais um pouco até ao Alto da Lomba, um local dominante com uma excelente vista sobre a Ria de Vigo, voltando a descer até à já tua conhecida N550, que te levará a Arcade, onde hás-de voltar um dia para comeres as melhores ostras da Galiza.
Entre Arcade e Pontesampayo, desagua o rio Verdugo na Ria de Vigo. Para o vencer vais percorrer uma extensa ponte medieval, que foi palco de uma das mais sangrentas batalhas da campanha de 1809, contra as divisões de Napoleão comandadas pelo Marechal Ney e que se dirigiam para Portugal. Foi tal a ferocidade que ainda hoje a população local põe aos cães os nomes dos generais Franceses.
Chegado a Pontesampayo é tempo e lugar para um merecido descanso. Procura um bar à boca da ponte e pede uma cidra de caña .
Animado com o descanso, vais ter agora oportunidade de percorrer um dos troços mais bonitos do Caminho. Mas primeiro terás que atravessar um labirinto de ruelas do aglomerado de Pontesampayo. Desces então, até ao rio Ullo, que passarás sobre o extradorso de um arco de volta inteira, com um cenário natural de rara exuberância, voltando a subir, agora, uma velhíssima calçada que trepa a encosta da Canicouba até Cacheiro.
Passada a área montanhosa o caminho alarga-se de novo, correndo campos, vinhas e pomares até à periferia de Pontevedra, que se adivinha já com a multiplicação de casas e a agitação urbana.
À entrada da cidade, junto à estação dos caminhos de ferro (RENFE), tens o albergue à tua espera e tempo de sobra para almoçares e percorrer durante a tarde o belíssimo centro histórico de Pontevedra.
Igreja da Virxen Peregrina, uma das grandes referências do Caminho Português. Atravessas depois a cidade velha até à milenária ponte de O Burgo, por onde atravessas o rio Lérez quando este se lança na Ria de Pontevedra.
Alcançada a margem norte entras na rua da Santinha, que se continua por um carreiro ao longo e de todo vale do rio da Granda, percorrendo no início as áreas palustres da Xunqueira de Alba e obrigando-te a molhares os pés nos troços atolados do Castrado e Pozo Negro.
Mas depressa chegarás a San Mauro, onde poderás fazer uma pausa junto à fonte. A partir daqui o caminho é geralmente largo e de piso fácil, mas liberto de trafego e embalado numa paz conventual. Começarão a surgir cruzeiros de cantaria lavrada, alguns preciosamente esculpidos, que provarão estares no caminho certo para Santiago. E acabarás por voltar de novo à N550, para dela saíres e tornar a entrar, várias vezes, até à povoação de Tivo, onde tens uma boa fonte à tua espera. E não vale a pena parar muito tempo, que estás a um quarto de hora do fim da jornada.
Vais entravar em Caldas de Reis pela Igreja de Santa Maria, directo à ponte do Umia, local de eleição desta cidade termal. Aqui se concentram algumas unidades hoteleiras antigas, reminiscências de uma actividade termal florescente e onde poderás encontrar alojamento enquanto não estiver disponível o Albergue de Peregrinos.

Terás ainda tempo de conhecer a cidade, que é pequena. Tira uns momentos de descontracção tentando molhar os pés cansados na água quente da Fonte das Burgas Esta última jornada é curta e fácil. Contudo se quiseres chegar a tempo de assistires à Missa do Peregrino na Catedral, ao meio-dia, aconselho-te a saíres antes da sete da manhã.
Deixas a cidade dirigindo-te para norte até à Colegiade de Santa Maria de Iria Flavia, sede episcopal antes da sua transferência para Santiago de Compostela. Curiosamente, associa-se a este local os dois maiores expoentes das letras galegas - a poetisa Rosália de Castro, aqui sepultada e o Nobel Camillo José Cela aqui nascido junto à basílica.
Passada Iria Flavia segues mais uma vez a N550, ao longo de um quilómetro saindo depois para poente para percorreres o curioso enfiamento de aldeias - Romaris, Rueiro, Cambelas, Anteportas, Tarrío e Vilar - até chegares, de novo, junto à N550, ao magnífico Santuário da Nosa Señora da Escravitute.
A partir daqui, por estradões e atalhos chegas à pequena povoação de Angueira de Suso e desce novamente a N550 para percorreres a sua berma durante cerca de um quilómetro. É a última vez que encontras esta via na tua Peregrinação.
É em Faramello que deixas a estrada, a pouca distância do Albergue de Teo, que poderia ter sido também uma boa alternativa ao de Padrón. Sais à esquerda para a Rua de Francos, atravessas num pontão a linha ferra e por um caminho variado, ora arilo, ora frondoso, sentirás progressivamente a aproximação de um a grande cidade, primeiro na diluição dos subúrbios, depois na descaracterização da periferia.
E assim chegas a Milladoiro, arrabalde urbano de Santiago e local escolhido por muitos peregrinos para concluir a penúltima jornada, a fim de poderem, no dia seguinte, entrar cedo na Catedral. Daqui sobes ao Agro dos Monteiros, de onde desfrutas, se o dia não estiver encoberto, uma boa panorâmica da cidade. É um local de referência do Caminho por ser aqui, que, pela primeira vez, consegues ver as torres da Catedral. Terás ainda que descer a encosta para passar a linha férrea (cuidado!) e o rio Sar e entras, na cidade, pela árdua subida da Choupana. Depois, as Avenidas Rosália de Castro e Juan Carlos I, e estás na Alameda da Ferradura, onde fica a porta Faxeira, entrada tradicional do Caminho Português na cidade velha. E no apertado labirinto de uma malha medieval também não há razão para engano. A Rua de Franco conduz-te directamente à praça do Obradoiro e à Catedral, onde agradecerás ao Apóstolos.
A História do Caminho de Santiago de Compostela
No mês de Julho muitos peregrinos, místicos e terapeutas de índole cristã percorrem o caminho de Santiago de Compostela em busca do auto-conhecimento, da purificação e da paz interior, repetindo uma tradição de quase dez séculos de existência. Por esse caminho passaram reis, nobres, guerreiros, sábios e ignorantes.Muitos são levados a percorrer o caminho em busca do cumprimento de uma penitência e outros por prestígio, pois no final da peregrinação recebe-se um certificado, antigo costume que ainda hoje se mantém.
Conta a lenda que em 813 um pastor eremita observou luzes na floresta daquela região da Espanha. Ele informou ao bispo chamado Teodomiro, que providenciou as escavações, nas quais foram encontrados os restos mortais e a lápide de Tiago, discípulo de Jesus, o qual foi decapitado em 44 d.C. na Palestina. Seus discípulos levaram-no de barco ao porto de Jaffa, e depois de navegarem sete dias à deriva chegaram às praias galegas. Seguiram em carro de boi por uma estrada pela qual, depois de percorridos 32 km, os bois recusaram-se a continuar. Era o Bosque de Libredón, em Espanha, local de sua última peregrinação. Teodomiro anunciou a descoberta ao Rei Afonso II, que proclamou Tiago como o padroeiro de seu reino.Escritos medievais confirmam o aparecimento de uma luz ou de uma estrela, o que os inspirou a darem ao lugar o nome de "Campo da Estrela", firmando assim o nome Compostela. No século XII o padre francês Américo Picaud escreveu cinco livros contando a história da vida do apóstolo, e os caminhos que o levaram a Santiago. Naquela época o lugar foi considerado santo pela Igreja Católica. Já em 1962, a Espanha declarou o caminho de Santiago património histórico e artístico do país, pois nele existem igrejas e monumentos do século X.Desde a década de oitenta muitos místicos, magos e terapeutas fazem deste caminho um circuito de autoconhecimento, em busca de paz interior. Os peregrinos são facilmente identificados: usam um cajado para lhes servir de apoio nos trechos mais difíceis ou para se defenderem dos lobos e trapaceiros que estão no caminho, uma capa curta para protegê-los do sol e da chuva, chapéu de abas largas, uma bolsa de couro e uma caixa de primeiros socorros.
A tradição pede que os andarilhos enfeitem as mochilas com conchas, pois são o símbolo do peregrino, uma espécie de símbolo do "santiaguista". Carregam também uma pequena cruz em forma de espada, a protecção de São Tiago Mata-Mouros. Lembrando outra lenda, em maio de 844 um príncipe venceu os mouros com a ajuda milagrosa de Santiago.
Existe ainda outra tradição: o Papa Alexandre III estabeleceu que seriam considerados anos santos compostelanos aqueles em que o dia 25 de julho, dia de São Tiago, calhasse num domingo. A popularidade do caminho de Compostela é tão grande em todo o mundo, que em vários países existem grupos de peregrinos que se reúnem para tirar suas dúvidas, e contam com o apoio da Federação de Associações de Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, sediada na Espanha. A melhor época para se fazer a peregrinação são os meses de abril e outubro.

4 comentários:

VagaMundos disse...

Uma partilha verdadeiramente valiosa. Excelente trabalho e grande aventura.
Abraço

Paulo Figueiredo disse...

"Mais nada parceiros", espero que tenha tudo "andado sobre rodas", a postagem está muito fixe e as fotos estão fantásticas. Quase veio a lágrima ao olho ao rever todos estes sitios.
Um grande abraço, e nunca "parar" pois são estas coisas que nos fazem sentir que estamos vivos.

Abs.
Mass

SSantos disse...

estava a tirar algumas ideias porque estou a tentar fazer algo do género.. gostei do teu olhar sobre alguns locais
Abs.

Lu disse...

Sem dúvida alguma, o Caminho Português de Santiago de Compostela é daquelas coisas que se faz e é impossivel nao repetir!
Já o fiz 2 vezes, a pé, e pretendo fazer-lo durante muitos e muitos anos!!!
Mais que um caminho, é um local de reflexão pessoal... é o melhor local para nos reencontramos a nós proprios!!
Simplesmente mágico!!
Em todos os troços do caminho encontramos um amigo e paz interior.