domingo, 18 de janeiro de 2009

Percurso “ARRIBA FÓSSIL”

Este Percurso de Pequena Rota (PR) desenvolve-se ao longo arriba fóssil entre as freguesias de Belinho, Mar, Marinhas, Vila Chã e Palmeira de Faro, no concelho de Esposende. Com um grau de dificuldade médio/alto, dado que decorre a cotas de altitude média e alta, entre terrenos de alcatrão e terra batida, tem como motivações o património natural, paisagístico e arqueológico que encontramos ao longo dos 9.660 km do percurso e que demorarão cerca de 4 horas a percorrer.
(percurso não sinalizado) Descrição do PercursoA freguesia de Belinho, cujo nome parece provir do genitivo Belini, segundo alguns autores, pertenceu à Casa de Bragança. D. Afonso Henriques entrega a igreja de Belinho em 1135 ao Arcebispo de Braga - D. Paio Mendes. Em 1320 encontra-se integrada no arcediago de Neiva e em pleno século XVI está já anexada ao cabido de Braga com a designação de "S. Finz de Velinho". Somente no ano de 1749 surge com a designação que ainda perdura de "São Fins de Belinho".O início do percurso pode ser efectuado no arranque da escadaria de acesso à capela da Senhora da Guia; no entanto, existe a possibilidade de ter como ponto de partida esta mesma ermida, pois existe um acesso rodoviário precisamente até aí. Apreciando a maravilhosa paisagem que se nos depara desde o miradouro ali existente, onde podemos observar a costa atlântica desde S. Bartolomeu do Mar a Viana do Castelo, a Serra da Nogueira, Arga e o Monte de Crasto, visualizamos igualmente o tipo de ocupação agrícola efectuado entre a costa e o limite geográfico compreendido entre esta e a E. N. 13. A gruta do "monge jóia", também designada como "penedo do cabreiro", é uma pequena gruta natural que se encontra junto a um enorme penedo nas proximidades da capela de Nossa Senhora da Guia. É da tradição oral que ali teria vivido no século XIX um monge que no inverno se deslocaria para Lisboa vendendo cautelas na capital e regressando a este local no verão. Acede-se a esta pequena gruta através de uma diminuta entrada, podendo observar-se no seu interior três imagens de Nossa Senhora.É da tradição oral que no tempo das invasões de bárbaros e muçulmanos, o povo cristão desta zona ter-se-ia refugiado neste monte levando consigo uma imagem de Nossa Senhora da Guia, que teriam escondido numa destas fragas. No local onde hoje se ergue esta capela teria, então, existido em tempos, um nicho de alminhas com a imagem desta santa. Atendendo a que este local não oferecia as melhores condições para o seu culto, a paróquia teria então decidido erigir uma capela, cujas obras se iniciaram em 1972 por iniciativa do pároco Manuel José da Costa Leal. Finalizada a construção no ano de 1974, esta capela viria a ser benzida a 19 de Maio desse ano, tendo então até à data sofrido algumas obras com vista ao seu melhoramento e conservação. O lampião de azeite que existia na parte poente servia de ponto de orientação aos navegantes que passavam ao largo da costa. O escadório que dá acesso a esta capela, e que conta com 383 degraus, foi iniciado em 1990 tendo sido finalizado há poucos anos.Partindo pela estrada de acesso a esta capela, com piso em alcatrão, deslocamo-nos através da mesma olhando pausadamente para todo o vale do Neiva que se nos depara à mão esquerda (Km 570). Na fauna verifica-se a existência por estas paragens do coelho (Oryctolagus cunniculus), javali (Sus scrofa), da águia de asa redonda (Buteo buteo), para além de outras espécies. Na flora destaca-se a abundância de sobreiros (Quercus suber), pinheiro bravo (Pinus pinaster), giesta branca (Cytisus multiflorus), giesta das vassouras (Cytisus scoparius), tojo (Ulex minor) e carqueja (Chamaespartium tridentatum). Descendo pelo Rua da Senhora da Guia, vire-se à esquerda (Km 1.080), através de um caminho em terra batida, seguindo em direcção sul. Este troço desenvolve-se através de uma área planáltica do Monte de Crasto, pertencente já aos domínios da freguesia de Mar.A freguesia de Mar localiza-se junto à costa atlântica, tendo como limites a norte Belinho, a sul Marinhas e a nascente Vila Chã. O seu nome ficará sempre ligado à tradicional romaria de São Bartolomeu, que se encontrava já documentada no século XVI, e ao seu Banho Santo que tem lugar todos os anos a 24 de Agosto. A determinada altura do nosso percurso, mais precisamente ao Km 1.920, na bifurcação, vire-se à direita em direcção a sul. Um pouco mais à frente, na oficina de trabalhos em granito, junto a uma pequena exploração de pedra, contorne-se à direita, agora em direcção oeste/poente (Km 2.300). Deve-se pender pelo caminho empedrado que se nos depara ao lado esquerdo ao Km 2.460, seguindo em direcção a sul por este troço ladeado por dois muros em pedra. Repare-se na abundância de eucalipto (Eucaliptus globulus) que, de certa forma, substituiu o pinheiro bravo (Pinus pinaster). Continuando em frente (Km 2.550), em direcção a sul, através deste caminho limitado à face direita por um muro, prosseguimos "viagem" até ao Km 2.830, pois neste preciso local deixamos o caminho principal para nos internarmos através de um outro acesso que surge à face direita. Caminhando em direcção a poente/oeste, vire-se à esquerda (Km 2.880) transpondo um pequena abertura que existe num muro à esquerda. Através de um caminho íngreme começamos a vislumbrar no horizonte o oceano Atlântico, até que chegamos à capela da Senhora da Paz.A capela de Nossa Senhora da Paz, localizada no lugar de Rio de Moinhos, freguesia de Marinhas, é uma ermida bastante antiga que encerra no seu interior altares ricamente decorados.Este local é um privilegiado miradouro para nos deleitarmos com a paisagem que desde da Póvoa de Varzim se estende até Viana do Castelo. As férteis terras que se encontram ao longo do estuário do Cávado, bem como a planície que se situa entre a arriba fóssil e o Atlântico, sofreram ao longo dos tempos uma enorme pressão turística. Vista magnífica sobre o oceano Atlântico e sobre o cordão dunar que suporta a impetuosidade deste mar que por vezes é violento.Junto à sede de concelho situa-se a freguesia de Marinhas, a mais extensa e populosa de Esposende. Em pleno século XI encontrava-se já uma referência a "Micahele de Cepanes", lugar integrado no arcediago de Neiva. Mais tarde, mais precisamente em 1108 e 1134, nova alusão ao actual lugar de Cepães. Nas inquirições de D. Dinis, em 1220, esta freguesia de Marinhas aparece ainda designada como "San Miguel de Cepães". Em 1357, surge como "São Miguel de Marinhas", sendo anexada um ano mais tarde, passando a vigorar com esta designação em definitivo a partir da segunda metade do século XV. Desça-se pela encosta fronteira à capela através de um trilho existente para esse efeito, ziguezagueando em direcção a norte. Um pouco mais à frente quedamos o olhar no horizonte, apreciando tudo aquilo que resta dos velhos moínhos de Abelheira.Os moinhos de vento da Abelheira formam um conjunto de engenhos de moagem, com configuração cilíndrica e construídos em pedra granítica, que se encontram localizados em pequenos "plateaus" na encosta do monte. O seu interior é constituído por dois pisos, ligados entre si através de um sistema de escada interior junto à parede. No piso de cima podemos encontrar a moenda, conjunto que integra a mó andadeira e a mó dormente. O movimento rotativo é transmitido à primeira através de um sistema de entrosga e carrete que por sua vez faz mover circularmente o veio que se encontra ligado à mó andadeira – ou mó movente. O velame destes engenhos seria composto por quatro velas triangulares, sendo o movimento de desvio do moinho realizado através da deslocação do rabo que deslocaria a capucha móvel em direcção ao vento.Ao Km 3.410, numa encruzilhada de caminhos, siga-se em frente em direcção a norte (?). O caminho em pedra rudimentar que surge em ascensão para o monte, do nosso lado esquerdo, seria um antigo acesso às velhas pedreiras que se localizam um pouco mais acima do local onde nos encontramos. A determinada altura do nosso percurso, o caminho desce abruptamente (Km 3.660), contornando uma pedreira que se encontra à margem desta via. Uma vez na base desta exploração de granitos, siga-se em direcção a nascente pela rua do Rego Velho, transpondo o ribeiro da Peralta através de uma pequena ponte que ali se encontra para o efeito. No entroncamento com a E. M. 1012 (Km 3.970), penda para a esquerda, direcção nascente e tome esta via de acesso à freguesia de Vila Chã.A nascente do concelho, bem lá no alto do planalto da arriba fóssil, localiza-se a freguesia de Vila Chã. Detem um vastíssimo espólio arqueológico, com várias mamoas - das Arribadas, da Cruzinha, do Monte da Cerca, da Portelagem, do Rapido - e o Castro de São Lourenço.À medida que ascendemos por esta estrada, reconfortamo-nos com a ideia de que estas antigas azenhas, em tempos de outrora, funcionariam como engenhos de moer farinha que alimentava grande parte da freguesia de Marinhas e Esposende, à semelhança dos moínhos de vento que se encontram um pouco abaixo destes engenhos hidráulicos. As azenhas copeiras de Abelheira - também designadas como azenhas de montanha - eram movidas pelas águas do ribeiro de Abelheira que desagua em Cepães. Dos inúmeros engenhos que outrora aqui existiam, a azenha do "Mil Homens" encontra-se actualmente com a roda de copas em ruínas, no entanto, a da "Dina Serralheira", um pouco a jusante desta, ainda mói. No outro ribeiro, o da Peralta, que nasce igualmente em Vila Chã, existiriam igualmente muitos engenhos de moer e de serrar.Um pouco antes da passagem inferior pelo I. C. 1, já na freguesia de Vila Chã, vire-se à direita através de um caminho em terra batida para, ao Km 4.580, virar à esquerda através de uma acesso que nos levará até à mamoa da Portelagem.A Mamoa da Portelagem é um monumento funerário megalítico constituído por uma câmara funerária com nove esteios graníticos e por parte da laje que cobria este espaço. Observam-se ainda restos de um diminuto corredor, sendo também visíveis pequenas pedras de contraforte. Daqui foi recuperado um vaso cerâmico que se encontra exposto no Museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, para além de algumas pontas de seta que podem ser apreciadas no Museu Municipal de Esposende.Voltando ao trilho inicial, ultrapassamos novamente o ribeiro da Peralta caminhando pela estrada que progride através do planalto de Vila Chã. Deixemos agora, ao Km 5.710, este mesmo caminho virando à direita através de um outro marginado por um muro e que nos levará até ao castro de São Lourenço, direcção sul. Uma vez chegados a estas ruínas arqueológicas (Km 5.930), suba-se o passadiço em madeira que aí se encontra, acedendo à parte superior deste castro, bem como ao miradouro de São Lourenço e sua ermida.O Castro de São Lourenço é um povoado da Idade do Ferro que seria defendido por dois panos de muralhas. As sucessivas campanhas de escavações colocaram a descoberto dois núcleos de habitações, ocupados cada um deles por uma família. A criação de socalcos na encosta, sustentados por muros em pedra, tinham como finalidade a criação de área de cultivo para o plantio de géneros. Os fragmentos de cerâmica importada entretanto encontrados, para além de outro espólio, atestam a progressiva romanização deste castro.Após esta breve paragem, prosseguimos viagem através do caminho em paralelepípedo que se dirige para nascente. Passado o cruzeiro, continue-se em direcção ao centro da freguesia de Vila Chã através da E. M. 550 até que, ao Km 6.580, logo após a transposição da passagem superior do I. C. 1., vire-se à direita para sul, na placa que indica “Dólmen”. Seguindo pelo caminho em terra batida, entre pinhal, alcança-se um cruzamento (Km 6.930) no qual devemos tomar aquele que se encontra à nossa mão direita. Aqui nas imediações deste local, encontra-se a mamoa das Arribadas.A Mamoa das Arribadas, ou da Cruzinha, situada perto da Quinta de S. Givas, é um monumento funerário de abastadas dimensões de características ímpares. A sua originalidade deve-se ao facto de apresentar sob o mesmo aglomerado de terras dois dolmenes, um dos quais ainda com a tampa de cobertura - o mais pequeno - e um outro de maiores dimensões.Continuando a descer pelo trilho inicial, passamos por um depósito de água (Reservatório de São Lourenço) e logo após, no cruzamento, vire-se à esquerda (Km 7.730). Já nos domínios da freguesia de Palmeira de Faro, ao Km 8.230, tome-se o caminho à direita em direcção poente. A freguesia de Palmeira de Faro localiza-se a oriente do concelho de Esposende. Terra onde viveu o notável escritor Manuel de Boaventura, o seu topónimo terá derivado da tradição popular que se refere aos "Palmeiros" como os peregrinos que se deslocavam a Jerusalém, terra santa, e que levavam consigo ramos de palmeiras. O Censual de Entre Lima e Ave, datado entre os anos de 1084 e 1091, indica a existência de uma igreja e da freguesia de "Sancta Eolalia de Faro". Um outro documento de 1108, proveniente do Mosteiro de Vairão, Vila do Conde, refere a "Villa de Palmaria de Faro". Em pleno século XIII, aquando das inquirições afonsinas, o nome de Santa Eulália surge como "Sancta Vaia", "Ovaya", "Ovaye", para além de outras designações. É terra rica em vestígios arqueológicos, onde se destacam algumas mamoas e o Castro do Senhor dos Desamparados.Mais tarde, ao Km 8.350, vire-se à esquerda para sul até que se chegue novamente a um cruzamento ao Km 8.720. Uma vez aqui, penda para a direita e suba pelo estradão que o levará até um pequeno planalto antes de alcançar o topo do monte de Faro, ao Km 9.660.O Monte de Faro encontra-se integrado numa unidade geomorfológica designada como arriba fóssil. Nesta zona onde nos encontramos, designada por plataforma alta - pertencente à arriba mais antiga e que se prolonga desde o rio Neiva até ao Cávado - avista-se o Atlântico e toda a zona costeira entre Esposende e a Póvoa de Varzim, a sul e o Bom Jesus de Braga, a este. Aqui, neste local calmo e repousante, teria existido em tempos um farol de aviso à navegação.Finalizamos aqui, no cume deste monte, o nosso percurso. Estarrecidos com a beleza do local, deixamos deslizar o nosso olhar pela excelência da panorâmica que se deslumbra perante a nossa presença.

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