segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

pastores do gerês ameaçam largar a terra

Pastores do Gerês ameaçam largar a terra Parque Nacional admite que valor em atraso já ascende a 250 mil euros
Os pastores do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) "têm os dias contados". Quem o diz é Venâncio Domigues, um "jovem" pastor de 44 anos que passou 17 anos a subir a serra à procura de pasto para as suas 320 cabras. Era um dos mais novos pastores do Soajo e o único apenas de cabras, mas há um mês decidiu colocar de lado a actividade, por causa dos ataques dos lobos aos rebanhos e do não pagamento pelo Estado das indemnizações devidas. As suas palavras reflectem a desilusão dos pastores de Soajo."Não tive hipótese. Andar aqui a sofrer e meter dinheiro do bolso é que não. O lobo levava numa noite o sacrifício de muitos dias. Começava a ser demasiado para suportar, não só financeiramente, mas também emocionalmente", confessou o ex-pastor, morador na freguesia de Soajo, que já chegou a contar com mais 400 pastores.Diariamente Venâncio fazia mais de seis quilómetros com o seu rebanho, mas os incêndios de 2006 destruíram pastos e os animais começaram a ficar fechados, mas sempre vulneráveis ao lobo, e o gasto com rações compradas em Espanha disparou. Só desde 2006 e até Abril de 2007 viu os lobos levarem-lhe mais de 20 cabras. "Uma dessas foi a 300 metros da minha casa. Houve também ataques de lobos junto ao cemitério", lembra Venâncio Domingues. Lentamente o PNPG vai perdendo pastores, fenómeno condenado a agravar-se porque, se não bastasse a idade dos actuais e fuga dos mais novos, o próprio lobo tornou-se no novo factor de afastamento, já que há dois anos que deixaram de receber as indemnizações pelos seus ataques. "Assim não dá para continuar. Que venham os senhores de Lisboa tomar conta do gado, das terras e de tudo o resto que há no parque", afirmou, inconformado, ao DN o presidente da Junta do Soajo, em Arcos de Valdevez, mesmo no coração do único parque nacional português. "Se não têm dinheiro para gerir o parque, então que acabem com ele e com o nosso sofrimento. Estamos fartos", diz Manuel Costa, sustentando que os atrasos nos pagamentos das indemnizações por causa do ataque de lobos são constantes e "ilegais", dado que a lei, ao impedir que o lobo seja abatido, obriga ao pagamento da indemnização em 60 dias. O autarca avisou que os pastores estão mesmo dispostos a sair à rua em protesto.

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